Deserto de notícias: 145 municípios maranhenses não têm veículo de informação
O noticiário local não faz parte da vida de 36% da população maranhense, que vive nos chamados desertos de notícia. A constatação é resultado dos dados divulgados no Atlas da Notícia 2.0, produzido pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), que mantém o Observatório da Imprensa, em parceria com o Volts Data Lab, iniciativa de jornalismo independente que trabalha com compilação de dados. O relatório do levantamento — que pode ser acessado na íntegra aqui — define desertos de notícia como “municípios sem veículos jornalísticos, ou seja, sem cobertura significativa de imprensa”.
De acordo com o levantamento, 66% dos municípios maranhenses não têm nenhum veículo de comunicação, sejam emissoras de TV ou rádio, jornais e revistas impressos ou sites. Isso significa que, no Maranhão, 2.595.897 de pessoas — ou 36% da população maranhense, que, segundo o IBGE, é de 7.035.055 atualmente — não possuem acesso a nenhuma cobertura de imprensa local.
Em todo o país, foram mapeados 12.467 veículos, sendo eles impresso, online, rádio e televisão. Por outro lado, 2.860 municípios brasileiros (52%) estão localizados nesses chamados desertos de notícias, o que equivale a 30 milhões de pessoas desinformadas. Se forem somados os desertos com os quase desertos (presença de apenas 1 ou dois veículos), esse total salta para 64 milhões de pessoas ou 31% da população nacional.
De acordo com o Atlas da Notícia 2.0, foram mapeados, em todo o Brasil, 4.007 emissoras de rádio, 3.368 jornais, 2.773 emissoras de televisão, 2.263 veículos online e 56 revistas. “Foi constatada uma dependência ainda de Rádio e do Impresso, especialmente fora dos grandes centros (Rio de Janeiro-São Paulo-Brasília). Já nos grandes centros de notícias do Brasil, veículos digitais representam uma proporção bastante significativa. No município de São Paulo, sites de jornalismo representam 67% do total de veículos, ao passo que no Rio de Janeiro o número é 62%. No Distrito Federal, 45%”, destaca o levantamento.
Um pouco mais sobre o Atlas
Segundo informações no site da publicação, o Atlas da Notícia teve como inspiração o projeto America’s Growing News Desert, da revista Columbia Jornalism Reviem, que mapeou a presença de jornais nos Estados Unidos. A metodologia adotada no Atlas foi baseada na contagem dos veículos no Brasil, utilizando, inclusive, colaboradores nas regiões do país.
Em novembro de 2017, foi publicada a primeira edição do Atlas da Notícia, restrito apenas à presença (ou ausência) de jornais impressos e veículos online. Naquele primeiro levantamento, alguns dados curiosos, envolvendo o Maranhão e sua capital, São Luís, chamavam a atenção.
Se por um lado, o estado ocupava o penúltimo lugar no ranking em relação à proporção de jornais e veículos online para cada 100 mil habitantes — com 0,46 veículos para cada 100 mil habitantes — São Luís aparecia em 21º lugar entre as cidades com a maior quantidade de veículos mapeados. Por outro lado, o Maranhão ocupava o último lugar quando a proporção era em relação a veículos online, com 0,14 para cada 100 mil habitantes.
É bom frisar que os dados do Atlas da Notícia mostram uma clara relação entre os IDHs mais altos e a maior presença de veículos de comunicação. Os chamados desertos da notícia — municípios com IDH mais baixo — são caracterizados por um consumo majoritário da televisão, que, em geral, exibe um conteúdo mais focado na realidade do eixo centro-sul do país.
Ainda sobre o Maranhão
Dos 145 municípios maranhenses localizados nos desertos de notícia, segundo o levantamento, 39 têm menos de 11 mil habitantes, sendo Junco do Maranhão o que possui a menor população, com apenas 3.237 habitantes. De acordo com o Atlas, municípios menores tendem a não ter cobertura satisfatória da mídia — a média populacional dos desertos de notícias é de 11 mil habitantes.
Por outro lado, há grandes municípios maranhenses localizados nesses desertos de notícia, como Paço do Lumiar, que possui 122.420 habitantes, Buriticupu, com 71.979 habitantes, e Barreirinhas, conhecida por ser o portal de entrada dos Lençóis Maranhenses, com 62.458 habitantes.
Fonte: Medium